segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Epistemologia Genética

Silviane Sebold – ESEF/UFRGS

Síntese dos artigos:

Piaget em Piaget - Tradução de Ester Pillar Grossi
Síntese GEEMPA – Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação.

Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta - Tradução de Tânia Beatriz Iwaszko Marques e Fernando Becker.


Epistemologia

Epistemologia genética é o estudo do desenvolvimento do conhecimento humano, criado por Jean Piaget, e influenciou o mundo da psicologia e a educação infantil.

O desenvolvimento do conhecimento e seus períodos

Jean Piaget sustenta que o conhecimento parte da ação do sujeito exercida sobre os objetos e há conseqüentemente, uma interação. O conhecimento não é pré-formado, nem nos objetos e nem no sujeito, mas há sempre auto-organização e uma continua construção e reconstrução, que pode ser denominada de criatividade.

Piaget usa como exemplo o estudo do próprio desenho da criança, pois o desenho é por definição a cópia de um modelo. A criança pequena não desenha o que vê, ela desenha a idéia que faz e o que interpreta sobre o que vê. Segundo Piaget, o conhecimento não é unicamente moldado sobre os observáveis. Ele não consiste num observável puro, mas sempre uma interpretação por assimilação a estruturas prévias.
A partir destas interpretações, vai se formando construções sucessivas e seqüenciais, que marcam uma série de platôs hierárquicos, denominados níveis.
O primeiro se manifesta antes do aparecimento da linguagem – é o nível da inteligência sensorio-motriz (ou sensório-motor).
Em seguida, é o nível das primeiras representações com a ajuda da linguagem, mas sem ainda atingir as operações, sendo o período pré-operatório (1-2 a 6-7 anos de idade), no qual as crianças utilizam a seriação, antes que atinja as operações.
Logo depois desta fase, veremos o período das operações concretas (7-8 aos 11-12 anos de idade), porque ele se realiza com objetos manipulados ou manipuláveis pela criança.
E finalmente, há um nível superior (11-12 aos 14-15 anos de idade), em que a criança pode raciocinar sobre hipóteses quanto sobre objetos e que nós chamamos nível das operações formais.

Com a aquisição da linguagem e a formação do jogo simbólico, imagens mentais, etc, as ações são interioriza­das e tornam-se representações. Isso supõe a reconstrução e a reorganização, em um novo plano, do pensamento representativo. Porém, a lógica desse período permanece incompleta até que a criança tenha 7-8 anos de idade. As ações internas são ainda “pré-operatórias” se tomamos “operações” para significar ações que são inteiramente reversíveis. Para uma criança pré-operatória, se a forma de um objeto muda a quantidade de matéria e de peso de um objeto também mudam.

Entre os 7-8 e os 11-12 anos, é constituída a lógica das ações reversíveis, caracterizada pela formação de certo número de estruturas estáveis e coerentes, como um sistema de classificação, um sistema de ordem, a construção dos números naturais, o conceito de medida de linhas e superfícies, relações projetivas (perspectivas), certos tipos gerais de causalidade (transmissão do movimento através de intermediários), etc. Inicialmente, estas operações são ‘concretas’, a criança, ainda raciocina em termos de objetos (classes, relações, números, etc.) e não em termos de hipóteses (se são verdadeiras ou falsas). Essas operações que envolvem relações de seriação e classificação entre os objetos enumerados, ocorrem, sempre, pela relação de um elemento com o elemento vizinho. Enquanto realiza uma classificação, a criança capaz de raciocínio concreto relaciona um termo com o termo que mais se assemelha e não há nenhuma classe “natural” que relacione dois objetos muito diferentes. Além disso, as operações possuem dois tipos de reversibilidade que não estão ainda unidas (no sentido de que uma pode ser unida à outra). O primeiro tipo de reversibilidade dá-se pela inversão ou negação, e o resultado dessa operação é uma anulação, por exemplo, + A - A = 0 ou + n - n = 0. O segundo tipo de reversibilidade dá-se pela reciprocidade e caracteriza-se pelas operações de relações, por exemplo, se A = B, então B = A, ou se A está à esquerda de B, então B está à direita de A, etc.

Ao contrário, dos 11-12 aos 14-15 anos, uma lógica mais completa alcança um estado de equilíbrio uma vez que a criança atinja a adolescência, ao redor dos 14-15 anos. Neste período, surge a capacidade para raciocinar em termos de hipóteses expressas verbalmente e não mais, em termos de objetos concretos e sua manipulação. A criança atribui valores decisivos à forma lógica das deduções, o que não ocorria nos estágios anteriores. Primeiramente, o pensamento hipotético muda a natureza das argumentações, tornando-as construtivas e por meio do uso de hipóteses, adotar o ponto de vista do adversário (embora sem necessariamente acreditar nele) e retirar as conseqüências lógicas que ele implica. Dessa forma, podemos julgar o seu valor depois de ter verificado as conseqüências. Logo, o indivíduo, ao se torna capaz de construir hipóteses, ampliará seus interesses que vão além de suas experiências, estando até mesmo capacitado para compreender e construir teorias para participar na sociedade e ideologias dos adultos. No nível das operações formais, nota-se que o sistema combinatório de pensamento não é apenas efetivo nos campos experimentais, mas que também o sujeito torna-se capaz de proposições combinatórias: conseqüente­mente, a lógica proposicional surge para ser uma das conquistas essenciais do pensamento formal.

Por outro lado, foi notado que não se pode generalizar para todos os sujeitos a conclusão destes resultados, na qual foi baseada em uma população relativa­mente privilegiada. Elas parecem ser verdadeiras para certas populações, mas o principal problema é compreender porque há exceções ou se essas são reais ou aparentes.
Um primeiro problema é a velocidade do desenvolvimento, isto é, as diferenças podem ser observadas na rapidez da sucessão temporal dos estágios. Entretanto, se a ordem de sucessão mostrou-se constante - cada estágio é necessário para a construção do seguinte - a média de idade com que crianças passam cada estágio pode variar consideravelmente de um meio social para outro, ou de um país ou ainda de uma região para outra no interior de um país.
Em geral, a primeira possibilidade é considerar a diferença no ritmo do desenvolvimento sem qualquer modificação na ordem de sucessão dos estágios, que poderiam ser devidos à qualidade e freqüência da estimulação intelectual recebidas dos adultos ou através de atividades espontâneas no seu meio. No caso de estimulação e atividade pobres, o desenvolvimento do terceiro e quarto períodos serão mais lentos, inclusive retardando o pensamento formal, que ao invés de ser entre 11 e 15 anos, poderá ser entre 15 e 20 anos. Ou, em último caso, um certo tipo de pensamento poderá nunca se desenvolver, ou somente se tornar possível naqueles indivíduos que mudarem o seu ambiente enquanto aquele período ainda não desenvolveu-se.

Em fim, a formação das operações sempre requer um meio favorável para a “co-operação”, (por exemplo, o papel da discussão, crítica ou ajuda mútua, problemas levantados como resultado de trocas de informação, elevada curiosidade devida à influência do grupo social, etc). Todos os indivíduos normais são capazes de chegar ao nível das estruturas formais na condição de que o meio social e a experiência adquirida proporcionem ao sujeito alimento cognitivo e estimulação intelectual necessários para cada construção.

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