quinta-feira, 27 de novembro de 2008

BISFENOL – A (BPA). O inimigo está dentro da nossa casa?

Silviane Sebold - ESEF/UFRGS

O produto químico bisfenol - A (BPA), é um monômero de plástico policarbonato, cuja estrutura de dois anéis de fenol insaturados tem pouca homologia estrutural com o estradiol (E2), mas é semelhante ao dietilestilbestrol (DES), ao hexestriol e ao componente bisfenólico do tamoxifeno.
Segundo Goloubkova e Spritzer (2000), a atividade estrogênica do bisfenol - A foi descoberta ocasionalmente. Pesquisadores da Universidade de Stanford identificaram uma proteína ligadora de estrogênio em levedura e, posteriormente, estudaram a existência de um ligante endógeno acoplado a esta proteína. Depois do primeiro relato de que a levedura produzia E2, esses autores verificaram que a atividade estrogênica não era proveniente da levedura, mas sim do meio de cultura preparado com água autoclavada em frasco de policarbonato. A substância foi purificada e identificada como bisfenol - A. Aproximadamente 2-3mg/L foram detectados em água autoclavada. A seguir, foi demonstrado que o BFA satisfaz todos os critérios para substância estrogênica, com dose mínima efetiva de 10-20 nanogramas.

Por causa da estabilidade superior, flexibilidade e resistência, as resinas epoxi-BFA são utilizadas em vários produtos, como camadas de revestimento interno de latas de alimentos, complexos dentários para obturações e embalagens de remédios. A composição do bisfenol – A aparece na maioria das embalagens alimentares porque permite que o plástico seja resistente e translúcido, como o policarbonato plástico, usado em revestimentos internos das latas e das tampas de metal, garrafas de água, mamadeiras de bebês.
O bisfenol – A, desde um estudo de 1996, já foi produzido em quantidades de mais de 700 mil toneladas, havendo aumento anual de 5-6% na produção.

Existem sete classes de plásticos utilizados na fabricação de embalagens. O de tipo 7 junta todas as outras classes e alguns plásticos número 7, como o policarbonato (identificado com o número 7 ou as letras PC dentro do símbolo de reciclagem) são fabricados recorrendo ao bisfenol - A. Este plástico, ao ser exposto à líquidos quentes, liberta bisfenol – A, 55 vezes mais rápido que em condições normais. O tipo 3 (PVC) também pode conter o bisfenol - A como antioxidante e os plásticos do tipo 1 (PET), 2 (HDPE), 4 (LDPE), 5 (polipropileno) e 6 (polistireno) não utilizam o bisfenol - A durante o seu processo de fabricação.

São crescentes os estudos e pesquisas relacionadas aos riscos que a ingestão desta substância possivelmente pode trazer, relacionado ao contato direto dos alimentos e líquidos com embalagens contendo bisfenol – A. Estima-se que quantidades pequenas desta substância podem passar do plástico de policarbonato ou das capas de resina a alimentos e bebidas, tanto pelo contato, quanto pela decomposição ou deterioração do plástico.
Pesquisadores testaram garrafas de água retornáveis de policarbonato durante sete dias com a água em temperatura ambiente e, depois, com água fervente. Quando preenchidas em temperatura ambiente, o bisfenol - A foi lixiviado a uma taxa de 0,2 para 0,8 nanogramas por hora. Depois, ao serem expostas à água fervente, as garrafas com o produto químico passaram para uma taxa de 8 a 32 nanogramas por hora.

Nota-se que este produto químico tem trazido controvérsias entre os que pedem a sua proibição e os que depreciam os seus efeitos. O estudo Toxic Baby Bottles publicado em Fevereiro de 2007 pelo Environment California Research and Policy Center, revela que mesmo em pequenas quantidades o bisfenol - A pode provocar algumas doenças, incluindo, cancro de mama, aumento da próstata, diabetes, obesidade, hiperatividade e alterações do sistema imunológico. A infertilidade e a puberdade precoce também estão entre os efeitos causados, pois estão associados à capacidade do produto químico interagir com o sistema hormonal, já que se trata de um desestabilizador endócrino, isto é, um agonista dos receptores de estrógeno que pode afetar a fertilidade e a reprodução. Este estudo recolheu amostras de mamadeiras dos maiores fabricantes do mundo e as respectivas medições sobre a quantidade do produto químico libertado do plástico para o alimento. Foi comprovado que se os alimentos em contacto com o composto forem aquecidos, por exemplo, quando se aquece o leite nas mamadeiras em microondas, quantidades de bisfenol – A são liberados para os alimentos.
Para Goloubkova e Spritzer (2000), essas substâncias químicas podem agir através de diferentes mecanismos, dependendo do período de exposição, podendo modificar a estrutura do DNA e expressão gênica, alterarem a síntese/secreção, transporte/eliminação dos hormônios ou, ainda, interferir com as etapas de ligação ao receptor ou com eventos em nível pós-receptor.

Apesar de não existir consenso ainda para a proibição do bisfenol - A, há algum tempo atrás saiu mais um estudo, desta vez do programa nacional de toxicologia dos Estados Unidos (National Toxicology Program) alertando para os possíveis efeitos negativos que o bisfenol - A pode causar à saúde humana. O estudo inclui a análise de 500 ratos que foram alimentados com doses baixas de bisfenol - A. O produto químico provocou alterações de comportamento, puberdade precoce, cancro da próstata e mama e problemas do aparelho urinário.

Já, um relatório publicado pela Administração de Drogas e Alimentos dos EUA (FDA), afirma que o bisfenol - A é seguro, mesmo quando entra em contato com os alimentos. Porém, de acordo com o Centro de controle e prevenção de doenças (USDA) do mesmo país, 93% dos americanos têm traços de bisfenol - A na urina, ou seja, a substância é ingerida, pois passa da embalagem para o alimento.

Apesar de não serem definitivas as conclusões, os pesquisadores alertam que não pode se garantir que nada possa acontecer aos seres humanos. Se pensarmos nos bebês, que estão em constante desenvolvimento e contato diário com mamadeiras contendo substâncias tóxicas, com certeza o risco de desenvolver diversas doenças ao longo de seu desenvolvimento é bem maior. Já existem crescentes indícios de que a exposição pré-natal ao bisfenol - A pode provocar alterações permanentes no cérebro das crianças, levando a mudanças comportamentais em fases posteriores da vida.
Porém, em outubro deste ano, um estudo italiano (Effects of developmental exposure to bisphenol A on brain and behavior in mice), publicado na Environmental Research (Volume 108, edição 2, outubro de 2008, pág. 150-157), mostraram que a exposição materna ao BPA, reduziu ou eliminou diferença de gênero em determinadas respostas comportamentais.

Como as respostas para estes questionamentos ainda são muito amplos, enquanto não temos soluções concretas, países como o Canadá estuda banir o uso do composto em mamadeiras para bebês e algumas indústrias do país já iniciaram o processo de substituição do bisfenol - A por outros produtos menos tóxicos. Nos EUA e Europa também já é crescente a rejeição dos consumidores a produtos com bisfenol - A. Nos EUA já são muito comuns os produtos, principalmente mamadeiras, rotulados como “BPA Free” e muitos consumidores norte-americanos já boicotam a compra de recipientes plásticos com a marca impressa de reciclagem número ‘7′.

No Brasil, o tema continua sendo ignorado. Nada se fala por parte dos órgãos governamentais, indústrias ou dos órgãos de defesa do consumidor e continua completamente ignorado pela mídia. Podemos começar evitando produtos que são identificados pelo número 7 no interior do símbolo de reciclagem, dando preferência a produtos de vidro, porcelana ou aço inox.

Referências:

Ana Beatriz Baptistella Leme da Fonseca - Nutricionista
Andreia Torres – Nutricionista
Goloubkova T e Spritzer PM; Xenoestrogênios: o Exemplo do Bisfenol - A. Arq Bras Endocrinol Metab (2000); 44/4: 323-330
Henrique Cortez - Site EcoDebate
Saúde em Revista

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